quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Shirley MacLaine sobre Hollywood: "É muito chato, sem imaginação"

A atriz de 77 anos vem ao Brasil para falar sobre longevidade e diz que seu segredo é "bom humor, otimismo e não ter rotina"

Shirley MacLaine não desce do salto, mesmo aos 77 anos. Elegante em cima de um sapato meia-pata de 15 cm, a estrela americana participou na manhã desta terça-feira (4) do Fórum de Longevidade do Bradesco, no hotel Unique, em São Paulo. “Quando tiro o salto alto, meu ouvido até desentope”, brincou a atriz, que veio ao Brasil pela segunda vez. Antes de revelar os segredos de sua longevidade à plateia, a atriz lembrou de seu début em 1955, no filme "O terceiro tiro", de Alfred Hitchcock. “Ele era fabuloso, incrível, cínico, divertido e fazia filmes humanos”.
Descontraída, engraçada e até um pouco ácida, Shirley contou piadas e arrancou gargalhadas dos convidados: “Quando Eva pediu a Deus um companheiro no paraíso, Deus disse: ‘ele será macho, egoísta e narcisista, mas satisfará seus desejos carnais. E para tudo dar certo, você só precisa dizer que ele foi criado antes. Isso só aqui entre nós, mulheres’”. Ao encerrar o bate-papo, deixou uma mensagem: “Fiquem todos bem e lembre-se de que a mulher veio antes do homem. É preciso ter interesse na vida humana. Todo dia somos atores de nossos próprios filmes”.
iG: Qual o seu segredo da longevidade?
Shirley MacLaine:
A longevidade é um estado da mente. Mas o meu segredo é bom humor e otimismo  frente à realidade. Além disso, um chapéu bem grande e um bom par de sapatos. Definitivamente não esses (apontando para os saltos que calçava). E eu não estou brincando. Sou velha, mas continuo andando por aí. A minha dica é estar presente. E eu também procuro ser eu mesma sempre, inclusive em frente ao público. Também não seria tão saudável, feliz, equilibrada e excêntrica sem a espiritualidade. Ainda pretendo viver mais 20 anos, como já vivi em muitas vidas.
iG: Você tem 77 anos e está inteira. Como é a sua dieta e rotina de exercícios?
Shirley MacLaine:
Não tenho hábitos, não faço nenhum exercício, não faço nada. Não como todo dia na mesma hora, não tenho rotina, não faço nada igual. A minha rotina é não ter rotina. Quando me perguntam a minha idade, digo que tenho quase 80. Amo isso, recebo muito mais elogios. A minha mãe com 77 anos mal podia andar e ela certamente não viajou tanto quanto eu. Acho inspirador viajar, mas por outro lado é tão complicado, me cansa um pouco.

iG: Como se relaciona com a tecnologia, você é ligada em redes sociais?
Shirley MacLaine: Gosto de fofoca como qualquer pessoa. Mas não gosto de dividir a minha vida e não acho que tenho que participar de redes sociais para pertencer a uma nova geração. Mas me incomoda ir jantar e os mais jovens não interagirem, cada um com seu celular. É como se eles “comessem” tecnologia. Fui ao cinema esses dias no Texas e havia jovens na minha frente assistindo outro filme no iPad. O que é isso? Estamos “tecnologizando” o cérebro? E a compaixão, a paciência? É perigoso.
 
iG: Qual a importância da religião e espiritualidade em sua vida?
Shirley MacLaine:
Tenho 12 livros sobre espiritualidade e religião. Infelizmente, a religião está separando o mundo, quando deveria ser o contrário. Por que lutamos com isso e qual deus é melhor? Gosto do que o padre Conrrado Balducci (ufanista) disse há quatro anos: "Não estamos sozinhos no universo”.
iG: Como você enxerga Hollywood hoje?
Shirley MacLaine:
Hollywood mudou muito, hoje é uma grande corporação. As pessoas estão mais preocupadas com o dinheiro e menos em fazer arte, é um horror. Os velhos têm menos espaço na indústria do cinema atualmente, porque o objetivo é vender produtos para os jovens. É muito chato e sem imaginação. E muito maçante, não estamos vendendo Coca-Cola ou carros, estamos imitando a vida humana.

A longevidade é um estado da mente. Mas o meu segredo é bom humor e otimismo frente à realidade"






iG: Na sua opinião, quem se destaca desta nova geração?
Shirley MacLaine:
Gosto das atrizes da nova geração, especialmente Anne Hathaway e Emma Stone. Acho que elas ainda vão evoluir muito. Mas me incomoda essa preocupação com o tapete vermelho. O que importa é o estilista que está vestindo, o sapato, a bolsa! A nova geração se arrisca menos, mergulha menos, antes todo mundo era mais louco.
iG: Você esteve no Brasil em 1991 e voltou 20 anos depois. O que acha do País?
Shirley MacLaine:
Gosto do Brasil, mas fico pensando por que marco alguma coisa às 8h e as pessoas só aparecem às 11h. De repente é bom não ser tão pontual, mas não entendo. Eu moro no Novo México (estado americano) e é parecido. Se eu tenho um compromisso segunda-feira ao meio-dia, chego lá e não tem ninguém. Terça-feira, quarta e quinta-feira, a mesma coisa. Na sexta-feira, a pessoa está lá ao meio-dia. Ela acertou a hora, mas errou o dia!

Gosto das atrizes da nova geração, especialmente Anne Hathaway e Emma Stone. Mas me incomoda essa preocupação com o tapete vermelho"










iG: Quais são os filmes que você mais gosta?
Shirley MacLaine:
Acho que o governo americano deveria ver “Lawrence da Arábia” todos os dias. Gosto de “Hairspray”, da diversidade sexual, homens fazendo papel de mulher e vice-versa. E também adoro “Chicago”.

iG: E dos que você atuou?
Shirley MacLaine:
Gostei muito de fazer “The Turning Point” (“Momento de Decisão", 1977), porque tenho uma formação como bailarina. Também "Terms of Endearment" (“Laços de Ternura”, 1983) e “The Apartment” ("Se Meu Apartamento Falasse", 1960).
iG: E se o seu apartamento falasse, o que ele diria?
Shirley MacLaine:
Ele diria "basta, basta!"
iG: Quais são seus novos projetos?
Shirley MacLaine:
Farei dois filmes independentes. Acredito que com pouco dinheiro faremos algo com imaginação. Não direi os nomes porque sou supersticiosa.

 
                                     



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